As novas tecnologias são um recurso cada vez mais importante para a educação, mas é preciso estar atento ao uso que é feito dos dados de navegação dos estudantes
Publicado por Camila Pereira
Todo o nosso comportamento on-line pode deixar rastros: cliques, buscas, curtidas, compartilhamentos… Desde o início de 2019, devido a uma nova regulamentação, os avisos para “aceitar cookies” estão em todos os sites, nos alertando de que nossos dados poderão ser armazenados e utilizados uma vez que damos o nosso “de acordo” — o que muitas vezes fazemos de forma quase automática. O cuidado com a privacidade na era digital, no entanto, é extremamente importante, ainda mais quando falamos do uso de dados em ferramentas digitais para a educação.
O registro da informação fornecida pelas nossas atividades virtuais é interessante para terceiros porque a partir dele é possível personalizar a experiência de cada usuário de acordo com suas preferências e seus interesses — além, é claro, de exibir propagandas direcionadas. No entanto, não necessariamente isso estará a favor do próprio internauta. Algumas características dos sites que muitos de nós visitamos são desenhadas para criar comportamentos viciantes e compras por impulso, fazendo uso de informações sobre nossa atividade on-line para aumentar seu poder de convencimento.
E o que acontece quando os estudantes utilizam ferramentas digitais? Apesar dos inegáveis benefícios desses recursos on-line para o ensino remoto, é importante estar atento a seus potenciais riscos. Esses incluem desde exposição indesejada na internet até o uso das informações coletadas para fins não-educativos, como o direcionamento de propaganda, o que não é uma consequência desejável
Usar ferramentas específicas para o ambiente educacional, ao invés dos aplicativos e plataformas mais comuns, é uma forma de garantir mais segurança nesse processo. Normalmente, essas soluções já vêm projetadas para manter as informações dos estudantes seguras.
Além disso, é possível tomar decisões a esse respeito de forma a manter a segurança e a privacidade dos alunos na era digital. Alguns passos podem ajudar nesse processo:
- Procurar entender o fluxo de dados
Antes de pedir aos alunos que usem uma nova ferramenta, é importante ler os termos de uso e entender como e quais são os dados armazenados, além do uso que será feito deles. Essas informações devem estar explícitas na política de privacidade. Aplicativos, websites, plataformas de vídeo ou de compartilhamento: qualquer atividade on-line deve ser mapeada e seu fluxo de dados compreendido. Caso algum ponto não esteja claro, é possível entrar em contato com os provedores e pedir um esclarecimento.
- Quais dados a plataforma recebe e qual é o risco associado com o seu vazamento
O que acontece se o e-mail, textos ou imagens dos estudantes forem parar em mídias sociais sem o seu consentimento? Um evento como esse pode ocorrer tanto por questões de cibersegurança (invasões no sistema por pessoas não autorizadas), quanto por questões de comportamento dos próprios usuários.
No primeiro caso, é necessário entender com o provedor da solução como é feita a segurança na transmissão de dados e quem tem acesso a eles. No segundo caso, pode-se estabelecer regras claras entre os estudantes do que é ou não permitido, além de comunicá-las de forma explícita.
- Responsabilização
Um dos problemas mais frequentes relacionados ao uso de dados na internet está ligado ao fato de que as questões de propriedade e responsabilização não são ainda bem definidas. Por isso, é importante entender e estabelecer quem será responsabilizado por qualquer tipo de uso de informações que possa ser de alguma forma prejudicial aos alunos, aos professores ou à escola. Esse esclarecimento deve se estender aos estudantes e seus pais.
As ferramentas digitais são um recurso de valor inestimável para a educação, especialmente neste momento de pandemia. Porém, a privacidade e a segurança dos dados dos usuários dessas soluções devem ser foco de atenção. Especialmente, porque muitos de nós ainda não imaginamos os tipos de implicações que podem decorrer do uso dessas ferramentas.
Além disso, é sempre uma boa prática a discussão e o entendimento dos limites de conforto com a exposição e o compartilhamento de dados de cada um dos envolvidos. Dessa forma, podemos não só passar por esse período sem grandes complicações quanto avançar na discussão a respeito das melhores práticas educacionais no universo digital.