Mestranda em Educação em Harvard fala sobre a necessidade de conscientização dos benefícios de uma educação inovadora para fomentar a transformação do setor
Por Nathalia Bustamante
Mestranda em educação em Harvard e ex-coordenadora de Educação da Fundação Estudar*
28/04/2021
A Education Journey tem como objetivo fomentar o ecossistema de inovação na educação, democratizando o acesso a uma formação de qualidade. Sabemos do valor da informação bem embasada para esse processo, e por isso temos a satisfação de convidar alguns dos principais agentes do setor para compartilhar suas ideias em nossa seção de artigos especiais. Leia abaixo a contribuição de Nathalia Bustamante, mestranda em Educação em Harvard e ex-coordenadora de Educação da Fundação Estudar*.
Falar de inovação em educação engatilha uma série de imagens mentais — de salas de aulas cheias de post-its a aplicativos de celular de aprendizagem adaptativa. Plataformas, recursos multimídia, realidade aumentada. E ninguém nega que todo esse aparato tecnológico abre horizontes novos para a nossa forma de ensinar e de aprender.
Mas a inovação também está na tarefa de casa pendurada no varal, em tempos de pandemia, para que as famílias possam recolhê-la sem contato com o professor. Está no uso de uma ferramenta já disseminada como o Whatsapp para a troca de referências em uma sala de aula mediada pela tecnologia. A inovação está onde houver necessidade por soluções que o sistema atual não atende.
Não é preciso uma pandemia para reconhecermos que a forma como fazemos educação no Brasil não atende às necessidades nem dos alunos, nem do país. Diversos problemas são identificados nos indicadores de performance dos sistemas de ensino, como as altas taxas de abandono e de distorção idade-série no Ensino Médio, apontadas pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica, do Todos pela Educação.
Outros problemas só passam a ser identificados uma vez que estes estudantes entram no mercado de trabalho, como a escassez de profissionais capacitados para atuar na área de tecnologia.
Se inovação é resolver problemas, quem há de negar que temos uma lista interminável, esperando ser endereçada?
Para que isso aconteça, no entanto, é necessário parar de encarar a inovação em educação como algo que acontece em departamentos de criação de escolas particulares e grandes empresas de tecnologia. O ensino pode ser abordado de uma forma diferente — e o primeiro passo para isso é não terceirizar a responsabilidade para uma plataforma, um setor ou um grupo de especialistas.
É preciso democratizar a informação sobre diferentes soluções, acompanhadas de evidências de como elas melhoram a experiência de aprendizagem. Já avançamos muito no volume de informação de qualidade disponível sobre como inovar: como implementar metodologias ativas na sala de aula; como introduzir gamificação; quais ferramentas e estratégias usar para promover interação no ambiente da sala de aula virtual.
Mas estes conteúdos pressupõem o conhecimento prévio da solução por parte dos agentes, que muitas vezes só sentem a dor no dia a dia. Começando pelo porquê inovar, o como passa a ser encarado como um recurso adicional, e não um fardo ou complexidade.
A informação sobre benefícios comprovados de práticas inovadoras para aumentar o engajamento estudantil pode chegar a profissionais aos quais a solução sozinha não alcançaria, por exemplo. Uma boa referência, neste sentido, é o relatório Measuring Innovation in Education, organizado pela OCDE. Mas ele ainda é um documento técnico, estatístico, pouco amigável a um público mais amplo. Sabemos que o tempo de cada um destes agentes é valioso, e o acesso a estas informações deve ser simples e direto.
Quem melhor que o professor para entender os problemas a serem resolvidos na sua sala de aula? Quem melhor que o diretor para enxergar os principais desafios da sua escola? Munidos de informação de qualidade sobre inovações e seus resultados educacionais, cada agente deste sistema terá ferramentas para adaptá-las às suas próprias necessidades.
Se a mentalidade inovadora permear todo o processo — dos legisladores aos pais e alunos — é possível contar com todo este potencial de transformadores para a solução dos nossos problemas mais latentes.
* A Fundação Estudar é uma organização sem fins lucrativos que custeia bolsas de estudo, oferece treinamentos e conecta jovens talentos e lideranças para que possam transformar o mundo para melhor.