Cultura maker em casa e na escola: como incentivá-la
Movimento que vê em cada pessoa o potencial de criar soluções para o mundo ganha força com as tecnologias digitais e pode ser estimulado com medidas simples
Publicado por Bruna Fleury
Data: 03/03/2021
As novas tecnologias têm impulsionado em todo mundo o que se convencionou chamar de cultura maker, um movimento que vê em cada pessoa o potencial de interferir na realidade, criando ou melhorando objetos significativos para si e para a sociedade. Trata-se de um processo colaborativo em que o erro é encarado como parte da aprendizagem e o compartilhamento de conhecimentos tem um papel fundamental.
Um dos principais benefícios dessa abordagem é que ela ajuda a desenvolver a curiosidade para explorar novas ideias e a confiança para enfrentar desafios difíceis. Pessoas inseridas na cultura maker aprendem a acreditar em si mesmas como solucionadoras de problemas, sem a necessidade de que alguém as oriente a cada momento, com impactos sobre sua vida pessoal, estudantil e profissional.
Como, então, fomentar essa cultura entre crianças e adolescentes? Por sorte, há inúmeras formas de fazê-lo, tanto na escola como em casa.
Impulso criador
Na verdade, se pararmos para pensar, o ímpeto de criar é um dos impulsos humanos mais básicos. Já na Idade da Pedra, nossos antepassados usavam materiais que encontravam no ambiente para desenvolver ferramentas úteis para a caça, a pesca e a coleta de frutos e raízes. E, nos milhares de anos desde então, nunca paramos de criar. A própria evolução da civilização é amplamente definida pelo progresso da tecnologia ao longo dos anos.
Hoje, no entanto, esse poder de inventar está mais disseminado. A facilidade de circulação das informações, aliada à disponibilidade de recursos como microprocessadores e impressoras 3D, elevou exponencialmente as possibilidades ao alcance do cidadão comum. Qualquer pessoa com acesso à internet pode encontrar e compartilhar ferramentas, instruções e ideias no ambiente virtual, onde uma comunidade vibrante de centenas de milhares de solucionadores de problemas globais se reúne diariamente.
Entretanto, é importante ressaltar que a educação maker não está estritamente ligada à tecnologia. Processos artesanais como o plantio de hortas comunitárias e a construção de objetos ou estruturas com sucatas são exemplos de atividades que seguem esse conceito.
Além disso, os valores maker coincidem com a inclinação natural de crianças e jovens para aprender fazendo. Para fomentá-los, é preciso favorecer a conscientização sobre o mundo a seu redor e ajudar que eles se vejam como pessoas que podem alterar e melhorar essa realidade, passando de receptores passivos de conhecimento a criadores de soluções palpáveis.
Cultura maker em casa
Algumas atitudes simples podem ajudar a incentivar a filosofia maker em casa. Garantir que a criança tenha tempo e espaço para o livre brincar, de preferência na natureza, é fundamental. Afinal, momentos de ócio não dirigido e entornos com objetos não estruturados (como pedras, gravetos e outros) são um prato cheio para a experimentação e as descobertas, além de permitirem o desenvolvimento e o reconhecimento das próprias habilidades motoras.
Da mesma forma, podemos incentivar que construam seus próprios brinquedos e projetos de arte a partir de sucatas. Vale reduzir ao máximo a exposição à publicidade e evitar o consumo excessivo de brinquedos comerciais para que essas pequenas produções caseiras ganhem espaço na rotina e sejam devidamente apreciadas.
Outro ponto importante é incluir a criança em decisões familiares, sempre de acordo com sua maturidade, e estimular questionamentos sobre seu entorno. Em vez de responder imediatamente a uma pergunta que ela faça, que tal provocar seu raciocínio com outra questão que a faça formular (e se possível testar) algumas hipóteses?
Também é fundamental valorizar o processo tanto quanto o resultado final. Crianças que são elogiadas apenas por seus acertos podem acabar desistindo de tentar coisas novas por medo do fracasso. Se, em vez disso, valorizamos também seu empenho em fazer algo, independentemente do resultado, passamos lições valiosas sobre a importância da experimentação.
Por fim, podemos ajudá-las a se inserir na cultura maker dando-lhes acesso (de forma monitorada) às tecnologias digitais. Existem, por exemplo, aplicativos que ensinam princípios de programação para o público infantil, o que poderá servir de base para o desenvolvimento das mais diversas soluções no futuro.
Cultura maker nas escolas
Além de fomentar os pontos citados anteriormente, as escolas também podem lançar mão de outras estratégias para inserir crianças e adolescentes na cultura maker.
A principal mudança em relação ao ensino tradicional é que a aula não pode ser encarada como sinônimo de aquisição passiva do conhecimento. O processo de ensino e aprendizagem deve ter como foco a prática, o pensamento crítico e o desenvolvimento de atividades conectadas com as exigências do mundo real.
Os alunos devem ter a oportunidade de trabalhar em equipe em projetos que estimulem sua criatividade, autonomia e protagonismo, buscando soluções com os recursos disponíveis. Idealmente, as atividades devem integrar conteúdos de diversas disciplinas, permitindo uma compreensão mais ampla das aplicações dos conceitos aprendidos.
Essas experiências interativas, abertas, dirigidas pelo aluno e multidisciplinares garantem o tempo e o espaço necessários para o desenvolvimento de diversas habilidades, conhecimentos e maneiras de pensar, resultando em oportunidades de aprendizagem poderosas.
Como podemos ver, a cultura maker permite que, dentro e fora das escolas, os jovens criadores combinem habilidades físicas e digitais, de ciência e engenharia, tecnologia e mídia, artesanato e artes para aprender como trabalhar juntos para resolver problemas.