E se vivermos cem anos? Longevidade e educação
O aumento da expectativa de vida muda a forma como encaramos o aprendizado ao longo da vida. Cada vez mais, vale a máxima: nunca é tarde para aprender algo novo
Por Camila Pereira
A humanidade está ficando mais velha. Segundo a ONU, em 2050 um quarto da população mundial terá mais de 60 anos. Além disso, a idade que conseguimos alcançar também é cada vez mais alta. É estimado que a expectativa de vida chegue a 81 anos no Brasil em 2060. Além disso, há pesquisadores que se dedicam a entender como é possível aumentar cada vez mais nossa longevidade.
Infelizmente, há fatores sociais e econômicos que tornam essa possibilidade distante para muitas pessoas. Porém, com a perspectiva de avanços nessas áreas e na medicina, a tendência é a de que alcançar idades mais avançadas seja cada vez mais comum. E viver mais trará uma série de novos paradigmas para a forma como encaramos nossa trajetória de vida.
Pode ser que diversos aspectos sejam encarados de forma diferente: as escolhas de carreira, os relacionamentos, as comunidades a que nos juntamos ou que construímos, questões envolvendo fertilidade, etc. A forma como lidamos com a educação ao longo da vida também é um desses aspectos. Você já imaginou como pensaria a respeito se soubesse que pode viver até mais de cem anos? Aqui vão quatro ideias para iniciar essa reflexão:
- Nunca é tarde para aprender algo novo
Pode parecer desmotivante se aventurar em uma nova habilidade ou área do conhecimento depois de uma certa idade. Afinal, estamos acostumados com uma trajetória de aprendizagem profissional que vai até a faculdade, com algumas especializações depois disso. Talvez pareça muito tempo para ser investido em uma etapa mais adiantada da vida, não é mesmo? Porém, essa perspectiva muda quando imaginamos que ainda temos muito tempo pela frente. Na nossa hipótese dos cem anos, aos 50 você ainda estaria na metade da sua vida. Não parece um desperdício passar os outros 50 sem aprender algo novo de que goste?
- Existem diferenças entre o aprendizado de adultos e crianças
O aprendizado adulto é diferente do das crianças, por dois motivos. O primeiro, biológico, é que nossos cérebros não são desenhados para aprender coisas novas com tanta rapidez depois de uma certa idade. Porém, o aprendizado eficaz ainda é possível. O neurocientista Andrew Huberman identificou dois passos para que isso ocorra: foco intenso e muito descanso.
O segundo motivo que diferencia o aprendizado nos mais velhos é psicológico: com a experiência, acumulamos uma bagagem de conhecimento diversa, que vai se conectar de diferentes formas com o que estamos aprendendo. Por isso a andragogia, um modelo pedagógico para adultos, se baseia fortemente na motivação e no interesse inicial do aprendiz para desenvolver a experiência de aprendizado.
Conhecer seus próprios processos de concentração, interesses e motivações é essencial para possibilitar o desenvolvimento contínuo mesmo em idades mais avançadas. Cursos e ferramentas educativas também podem ser desenvolvidos para o público mais sênior levando em conta esses fatores.
- O convívio com as novas gerações pode ser enriquecedor
Não faz muito tempo que os conflitos entre os millennials (aqueles nascidos entre a década de 80 e os anos 2000) e a geração X (a geração anterior) eram tema de diversas discussões. Agora, a chamada geração Z, composta por aqueles nascidos entre 1995 e 2010, já começa a entrar no mercado de trabalho e a ocupar os espaços de comunicação cultural, especialmente os virtuais. Com isso, seus contrastes com a geração anterior estão vindo à tona.
Com o avanço cada vez mais rápido das tecnologias e o surgimento de novas formas de expressão, as diferenças entre gerações vão ficando mais evidentes. Se permanecermos mais tempo no mercado de trabalho, também teremos que estar preparados para conviver com as perspectivas de diferentes faixas etárias com mais frequência. Essa troca cultural não precisa ser conflituosa, mas sim inclusiva, de forma que as distintas gerações possam aprender umas com as outras. Estar atento e aberto para utilizar novas ferramentas, assim como para compartilhar experiências, é importante para a expansão de perspectivas valiosas.
- Exercitar as capacidades cognitivas é essencial para o envelhecimento ativo
Se cuidar da saúde do corpo é de extrema importância, manter a mente em forma também é fundamental. Em 2002, a Organização Mundial de Saúde publicou um relatório sobre a importância do envelhecimento ativo para uma população cada vez mais longeva. Esse termo se refere ao “processo de otimizar oportunidades para a saúde, a participação e a segurança com o objetivo de melhorar a qualidade de vida conforme a população envelhece”.
A OMS afirma que preservar a saúde cognitiva e psicológica é muito importante para um envelhecimento saudável. Para isso, é importante exercitar constantemente sua capacidade cognitiva — por exemplo, aprendendo coisas novas. Além disso, manter uma boa saúde emocional e um bom convívio social é de extrema relevância. Adaptar-se às necessidades de novos hábitos para manter a saúde com a idade também é um processo que requer novos aprendizados.
De forma geral, o fato de que aprendemos de forma diferente com a idade não significa que devemos parar o processo de educação. Muito menos que seja tarde para começar um novo caminho. Pelo contrário: o conhecimento já construído apenas se expande, ele não desaparece ao se iniciar em uma área nova. Preservar a capacidade de participação dos mais velhos na sociedade é importante para que o conhecimento e a sabedoria adquiridos com a experiência possam ser compartilhados, e possamos nos adaptar a uma realidade com muito mais anos de vida.
Quer incluir a aprendizagem no seu dia a dia, independentemente de sua idade? Confira nosso artigo com dez dicas práticas para se tornar um lifelong learner e comece a colher os benefícios da aprendizagem contínua para sua carreira e sua saúde!