Cada vez mais importante no mundo contemporâneo, a agilidade de aprendizagem pode ser resumida como “saber o que fazer quando não sabemos o que fazer”
Por Bruna Fleury
Faça uma pausa e olhe à sua volta: tudo está mais volátil, incerto, complexo e ambíguo do que nunca. O mundo atual muda a passos largos, e exige que nos adaptemos no mesmo ritmo da mudança. É preciso desenvolver rapidamente habilidades que nos permitam fazer frente a desafios que não vêm com manual. Precisamos nos tornar peritos em saber o que fazer quando não sabemos o que fazer. O segredo para navegar esses tempos acelerados é desenvolver a chamada learning agility, ou, em português, agilidade de aprendizagem.
Indivíduos que possuem essa habilidade são curiosos e não se intimidam com situações adversas, mostrando disposição para mergulhar em assuntos complexos até obter o entendimento necessário para tomar suas decisões. Eles valorizam o aprendizado ao longo da vida (lifelong learning, no termo em inglês), cultivam um mindset de crescimento e dominam a capacidade de aprender com eficácia através de suas experiências, tanto boas quanto ruins. Mais do que isso, buscam maneiras de aplicar ativamente essas lições aos novos desafios que se apresentam.
Não se trata, portanto, de uma habilidade acadêmica, e sim de uma característica pessoal que pode — e deve — ser trabalhada no dia a dia, inclusive das empresas. No mercado contemporâneo, a agilidade de aprendizagem pode ser o fator decisivo para que um negócio se destaque da concorrência. E não basta que apenas as lideranças a dominem: a organização como um todo precisa ser capaz de antever e reagir rapidamente às transformações em curso nas mais variadas áreas.
Como, então, desenvolver a chamada learning agility? Alguns hábitos são fundamentais na construção dessa competência.
Mergulhar em situações novas e desafiadoras que ampliem e expandam o repertório de experiências pessoais e profissionais é fundamental. Vivências inéditas são oportunidades de aprendizado e podem ajudar a fomentar a paixão por novas descobertas e pela melhoria contínua, além de contribuir para lidar melhor com riscos e fracassos.
A reflexão também é muito importante para que essa riqueza de experiências resulte de fato na aquisição de novos conhecimentos. Ela permite melhorar a percepção de si próprio e o conhecimento de seus pontos fortes e fracos, o que possibilita desenvolver habilidades e compensar limitações pessoais. Indivíduos que têm o hábito de refletir sobre esses aspectos conseguem fazer adaptações ao longo do caminho, reconhecer que não têm conhecimento suficiente sobre determinado assunto e conviver com ambiguidades e incertezas.
Outro ponto chave é buscar feedback para incorporar lições importantes. Pessoas com learning agility respondem de maneira eficaz às críticas, aprendem com seus erros e valorizam um retorno honesto sobre seu desempenho. Isso resulta em um alto nível de autoconsciência e faz com que saibam traduzir seu potencial em ações efetivas.
Por fim, é preciso exercitar a habilidade de colocar em prática em contextos novos e desafiadores as lições aprendidas anteriormente. Isso permitirá resolver problemas de formas inovadoras e criativas e se ajustar facilmente a mudanças nas circunstâncias.
Ser mentalmente ágil, portanto, tem muito mais a ver com curiosidade intelectual do que com intelecto puro. É um tipo particular de curiosidade, onde o indivíduo torna-se explorador intelectual do mundo ao seu redor. Um explorador de ideias, pessoas, histórias e imagens do futuro.
Se você quer desenvolver sua própria agilidade de aprendizagem ou torná-la um diferencial de sua empresa, é necessário ter em mente os seguintes pontos:
- Flexibilidade: ser aberto a novas ideias e propor novas soluções;
- Agilidade: colocar ideias em prática rapidamente, para que aquelas que não funcionem sejam descartadas e abram espaço para outras possibilidades;
- Experimentação: experimentar novos comportamentos, abordagens e ideias para determinar o que é efetivo;
- Tomada de risco em performance: procurar novas atividades (tarefas, funções, responsabilidades) que forneçam oportunidades de se desafiar;
- Tomada de risco interpessoal: discutir diferenças com as pessoas de formas que levem ao aprendizado e à mudança;
- Colaboração: achar maneiras de trabalhar com outros para gerar oportunidades de aprendizagem;
- Aperfeiçoamento constante: usar métodos variados para permanecer atualizado na sua área de expertise e para ampliar seu repertório de outros temas;
- Busca de feedback: pedir feedback sobre suas ideias e sua performance no geral;
- Reflexão: tornar a autoavaliação de sua própria performance um hábito constante.
Lembre-se que é importante examinar o ambiente em busca de oportunidades que possam alimentar seu desejo de aprender, de se surpreender e de ampliar sua bagagem. A solução criativa de problemas começa com a capacidade de fazer conexões criativas, por exemplo encontrando semelhanças entre dois ou mais assuntos não diretamente relacionados. Fazer essas conexões permite que você veja além do óbvio, que enxergue por baixo das características superficiais de uma questão.
Assim, é preciso ter sempre em mente que a learning agility é forjada pela experiência. Experiências são necessárias para fornecer as sementes para a aprendizagem e as oportunidades de aplicar e refinar esses aprendizados. Portanto, seja paciente e mantenha o compromisso de abraçar, refletir e aplicar continuamente suas experiências.