Encorajar o estudante a assumir um papel central no aprendizado traz inúmeros benefícios, especialmente em tempos de pandemia e ensino remoto
Publicado por Bruna Fleury
Data: 15/01/2021
Se você estudou em uma escola tradicional, dessas em que o professor é o dono absoluto do conhecimento e seu principal transmissor, pare um minuto e pense: o quanto ela te ajudou a desenvolver as principais habilidades exigidas no mundo atual, como a capacidade de adaptação, a pró-atividade, a criatividade e o pensamento crítico? Não muito, verdade? É por isso que, atualmente, um conceito ganha cada vez mais importância na educação: o de agência do aluno.
Trata-se da ideia de que, para se desenvolver de forma plena e compatível com os desafios contemporâneos, os estudantes devem aprender através da participação ativa, mostrando comprometimento com o próprio processo de aprendizagem e autonomia para agir na direção desejada. Envolvidos com as aulas, suas chances de sucesso acadêmico aumentam drasticamente.
Nesse cenário, o professor não pode estar na posição de único detentor do saber e nem querer transmiti-lo de forma padronizada e unificada, desconsiderando aptidões e necessidades individuais de seus alunos. Seu papel passa a ser muito mais o de orientar e mediar a construção do conhecimento. A audiência, por sua vez, deixa de ser predominantemente passiva e passa a ser agente do seu aprendizado, traçando e perseguindo seus próprios objetivos educacionais.
Assim, há três características centrais na agência do aluno:
- Depende da iniciativa e da auto regulação do estudante. Não se trata de o professor simplesmente passar o controle para o aluno, abdicando de seu papel, mas sim de criar um contexto em que a turma esteja ativamente envolvida no aprendizado, confiante de que suas ações irão fazer diferença.
- É interdependente. Isso significa que cada aluno não fará apenas o que quer, de forma isolada, sem considerar o cenário sociocultural da sala de aula. É preciso desenvolver a consciência de que há consequências para as decisões e ações tomadas e fazer com que essas sejam levadas em conta por todos.
- Inclui se responsabilizar pelo impacto das próprias ações no ambiente e nos outros alunos, já que cada decisão que um estudante toma influencia o pensamento, o comportamento e a decisão de outros.
Agência do aluno em tempos de Covid-19
Em um contexto como o atual, de escolas fechadas ou com atividades reduzidas por conta da pandemia de Covid-19, encorajar a agência do aluno pode ser uma ótima forma de lidar com as dificuldades impostas pelo menor controle sobre o tempo e a atenção dos estudantes. Além de estimular uma habilidade que será útil por toda a vida, a estratégia favorece também os centros educativos, que se beneficiam de alunos mais engajados e autônomos. Abaixo listamos três vantagens claras desse estímulo e algumas maneiras de obtê-las:
1. Benefícios para o envolvimento e aprendizagem do aluno
Os professores podem usar o fechamento de escolas como oportunidade para “desaprender” papéis e protocolos convencionais. A construção desse tipo de cultura de aprendizagem não acontecerá da noite para o dia, mas existem formas de cultivá-la. Os professores podem:
- Introduzir mais controle do aluno sobre as atividades, programações e avaliações durante o aprendizado remoto;
- Convidar os alunos a desenvolver projetos caseiros relacionados a suas próprias curiosidades e interesses ou a fazer um “compartilhamento de habilidades” para ensinar algo novo aos seus colegas.
2. Benefícios para o bem-estar social e emocional
Os benefícios de fomentar a agência podem superar os acadêmicos. Em um momento em que professores e gestores escolares enfrentam dificuldades para apoiar as necessidades sociais e emocionais de suas classes, os próprios alunos podem desempenhar um papel importante nesse sentido. As escolas podem:
- Criar uma rotina em que os alunos se comuniquem entre si para checar suas necessidades durante a pandemia e depois reportar à escola;
- Deixar que os estudantes criem vídeos, blogs e outras iniciativas para manter o espírito de comunidade da turma mesmo no ensino remoto.
3. Benefícios para as operações da escola
Por fim, as escolas também podem estimular a agência dos alunos na resolução de questões operacionais que se agravaram com a pandemia:
- Professores, funcionários e alunos podem se unir para identificar necessidades que possam ser atendidas de forma prioritária por alunos, como suporte informático, tutoria entre colegas e até planejamento de aulas;
- Os gestores também podem pensar em maneiras de abrir caminhos para que as contribuições dos alunos sejam valorizadas, reduzindo o risco de que permaneçam periféricas ou ocasionais.
Quando temos em mente que, muito mais do que passar conteúdo, a escola tem um papel essencial na formação dos jovens, é fácil entender porque estimular a agência do aluno é tão importante. Afinal, encorajá-los a serem independentes e atuantes costuma ter resultados não só para o desempenho escolar, como para a construção de um mundo mais justo e consciente.
Fontes:
https://core-ed.org/research-and-innovation/ten-trends/2014/learner-agency/